quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Guerra Urbana Perfil Marcola


Folha de São Paulo 16 de Maio de 2006

Reportagem: André Caramante


  Marcos Willians Herbas Camargo começou no crime como batedor de carteiras no bairro paulistano Cambuci por volta de 1975, hoje é líder máximo do PCC
  "Playboy", como também é chamado pelos amigos criminosos, é o responsável pela maior onda de atentados já ocorrida no Estado de São Paulo e tem fama internacional, muito parecida com a que teve o traficante colombiano Pablo Escobar, líder do Cartel de Cali.

  Ávido leitor, Marcola PCC gosta de indicar aos amigos de cárcere a leitura de "A Arte da Guerra", livro escrito há mais de 2.500 anos pelo filósofo chinês Sun Tzu.

  Com base no ensinamento máximo da obra, "para derrotar um inimigo, é preciso conhecê-lo", Marcola conquistou o respeito da massa carcerária e conseguiu a façanha de mobilizar milhares de detentos ao mesmo tempo, até fora de São Paulo.
  No início da década, numa tentativa de isolá-lo e diminuir seu poder, o governo paulista o mandou passar temporadas em um presídio do Rio Grande do Sul e em um outro de Brasília (DF).

  A receita do isolamento teve efeito contrário e Marcola, que também gosta de indicar a leitura do poeta italiano Dante Alighieri, conseguiu difundir ainda mais as "filosofias" do P.J.L. (Paz, Justiça e Liberdade), que, teoricamente, regem a conduta daqueles que fazem parte da organização criminosa, criada em agosto de 1993, durante uma partida de futebol disputada por oito amigos de Marcola, dentro da Casa de Custódia de Taubaté .

   De fala mansa e muito galanteador, segundo as pessoas que mantêm contato mais direto com ele, Marcola tem uma filha.
   Atualmente namora uma moça que estuda direito.
  Marcola foi casado com a advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45, assassinada com dois tiros na cabeça, em 23 de outubro, em Guarulhos (Grande São Paulo).

  O crime foi cometido, segundo a polícia, a mando de outros membros da facção criminosa que estavam revoltados com a postura da advogada em tentar impedir que os integrantes do PCC cometessem atentados como os dos últimos dias.

  Antes de ascender ao posto de líder do PCC, Marcola teve de destituir do poder os ex-companheiros e fundadores da facção José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roriz, o Cesinha, ambos considerados "radicais" por defenderem ataques contra às forças de segurança do Estado.

  A rede de proteção de Marcola no comando da facção é formada por homens que também têm poder de manipulação junto à massa carcerária: Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, também conhecido por gostar de fazer citações de livros, Orlando Mota Júnior, 34, o Macarrão, com quem o governo estadual negociou durante os últimos dois dias o fim da onda de violência.

  Carombola, Macarrão, Júnior e Gegê, assim como o mentor Marcola, quase nunca falam gíria e sempre sabem, de acordo com agentes penitenciários que cuidaram deles, como negociar moderamente aquilo que desejam.

  Para manter a facção, Marcola e os seus "irmãos", como são tratados os membros do PCC, cobram R$ 500 dos criminosos que estão em liberdade e R$ 50 dos que estão presos, em troca de proteção.
  Essa verba, sempre depositada em contas bancárias de pessoas ligadas aos líderes, serve para financiar o tráfico de drogas, o resgate de presos e atentados.

 "Bin Ladens"

  Quando um "irmão" do PCC, ou um "primo", denominação dada aos simpatizantes da facção, não consegue dinheiro para quitar sua contribuição mensal com o grupo, ele passa a ser aliciado para cumprir missões a mando dos "pilotos" do grupo, que são os detentos que têm contato mais direto com Marcola e seus subordinados imediatos.

  Pela hierarquia de comando criada em 1993, pilotos são aqueles detentos que cuidam das "faculdades", ou seja, das prisões onde há domínio do PCC.
  São eles também quem repassam, com o uso de telefones celulares, as ordens para que ataques ou mortes em nome da facção sejam cometidos pelos "bin ladens" ou homens-bomba, em referência a Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, e aos membros de organizações terroristas islâmicas.

  Para pressionar um "bin laden" a cometer crimes, os pilotos da facção dão um "salve" (aviso) em que apresentam duas opções aos arregimentados: ou ele acerta o valor que deve ao grupo ou cumpre a missão, seja ela no seu bairro ou em uma outra área; caso contrário, ele passa a ser considerado um traidor do "Partido do Crime" ou do "15.3.3" (por causa das posições das letras "P" e "C" no alfabeto), as outras nomenclaturas da facção paulista.

  Em muitas situações, os ataques são cometidos por jovens que tentam "fazer o moral" perante os criminosos do bairro onde vivem e que são membros do PCC.
  Isso é uma maneira de demonstrar a vontade de entrar para o grupo.
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  Essa matéria é interessante, reproduzi praticamente na integra por ficar receoso que o link desapareça.
  Eu a usei como exemplo em alguns textos e comentários.

  Pessoas dizem que ler livros é maravilhoso, é já gostei muito, hoje passo a maior parte do tempo escrevendo.
  Eu também recomendo a todos ler bastante, porém não tenho a ilusão que ler livros necessariamente tornar a “pessoa melhor”.
  Gosto da leitura, não tenho “idolatria” por ela.
 
  


  “Se não chegarmos a triunfar não nos resta mais nada a não ser arrastar conosco metade do mundo nesse desastre.”
[Hitler]

  Gostei de ler Hitler, ele é mais um caso que coloca em xeque a teoria que o acumulo de conhecimento pode por si só transformar um homem em uma “pessoa melhor”.

Repense:



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